Alemães tentam censurar ambientalistas que fizeram relatório contra a CSA
Jorge Lourenço
A ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) está processando ambientalistas que fizeram relatórios contrários às atividades da empresa em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A alegação tenta qualificar os estudos como "danos morais". A primeira vítima foi a ambientalista Mônica Cristina Lima, bióloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj). O pneumologista e pesquisador Hermano Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa Dias, da Fiocruz, também são alvos das ações da Thyssen. A razão? Todos eles constataram os malefícios que a CSA levou aos moradores da região. A lista, extensa, foi publicada pelo Jornal do Brasil em maio.
Câncer, abortos, alergias...
Segundo Mônica Lima, a pesquisa na região revelou que a região apresenta alta incidência de abortos espontâneos e mais casos de câncer do que o normal, além de casos de alergia relacionados ao material expelido pela empresa. Tudo solenemente ignorado pelo relatório de impacto ambiental (RIMA) encomendado pelo governo do estado e feito pela empresa ERM Brasil. O I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental, realizado no ano passado, chegou a mover uma moção de repúdio contra a multinacional alemã ThyssenKrupp. A companhia, aliás, aderiu a uma estratégia cada vez mais popular entre empresas atacadas por ambientalistas: tentar calar seus algozes com acusações de "danos morais".
Com a palavra
"Isso é uma tentativa de intimidação, é uma ameaça e um atentado contra a ciência. Nós estamos sendo cerceados, mas vamos continuar a exercer a nossa função. Espero que nenhum advogado me instrua a me calar, porque isso eu não vou fazer", explica a bióloga Mônica Lima, responsável pelos laudos médicos do relatório elaborado pela Fiocruz.
Alfried Krupp, líder da empresa durante a Segunda Guerra, foi julgado em Nuremberg". São danos absurdos à saúde da população e ao meio ambiente. Jamais a CSA poderia ter se instalado ali. A situação já era ruim com apenas um alto forno na siderúrgica, mas o nosso governador Sérgio Cabral mesmo assim autorizou a construção de um segundo. Temos um governo ausente, até conivente com a empresa", ataca a especialista.
Histórico polêmico
A ThyssenKrupp, aliás, não tem um histórico exatamente positivo. Um dos mais notórios líderes da empresa, Alfried Krupp, foi condenado após a Segunda Guerra Mundial por crimes de guerra graças a sua estreita relação com o governo nazista. Nos tempos de Hitler, 23% dos 100 mil trabalhadores da Krupp eram prisioneiros de guerra e trabalhavam em regime de escravidão.