A morte de Bin Laden a mando do Prêmio Nobel da Paz

14/05/2011 14:02

A morte de Bin Laden a mando do Prêmio Nobel da Paz

 

Brasil de Fato

A principal causa das guerras e mortes de civis permanece: a insaciável ganância de acumular riqueza e poder

11/05/2011

 

Editorial edição 428 do Brasil de Fato

 

 

            Após dez anos de procura, Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, finalmente foi assassinado pelo governo estadunidense. Encontrado numa mansão a 70 km da capital paquistanesa, foi executado com um tiro na cabeça por uma tropa de elite do exército dos EUA, treinada para promover ações encobertas em qualquer parte do planeta. Restava, para concluir a missão, livrar-se do corpo. Jogá-lo em alto-mar, de um helicóptero, na tentativa de desaparecer com os vestígios do cadáver, repetiu a prática dos militares da ditadura Argentina, na década de 1970.

            Todo o acontecimento ainda está cercado de dúvidas, afirmações que são desmentidas imediatamente e questões que certamente ficarão sem respostas por muito tempo. O próprio governo dos EUA não hesitou em mentir, vergonhosamente, ao transmitir as primeiras informações sobre o assassinato.

            Não há nenhuma defesa a Bin Laden ao se questionar e se indignar com o seu assassinato. Identificado como responsável por inúmeras ações que causaram a morte de milhares de civis, ele deveria ir a julgamento e, caso condenado, pagar pelos seus atos. Certamente, num processo de julgamento seriam identificados outros parceiros, financiadores e mandantes das ações criminosas. Todos merecedores de acompanhá-lo no banco dos réus. Por isso, era conveniente assassiná-lo, não prendê-lo.

            O jornalista inglês Robert Fisk lembra que o mesmo aconteceu com Saddam Hussein: foi enforcado antes que tivesse oportunidade de falar sobre os componentes do gás fornecido pelos EUA e usado contra os curdos ou sobre a ajuda militar que recebeu de Washington quando invadiu o Irã em 1980.

            Não faltaram os aplausos de inúmeros governos à ação militar ordenada por Barack Obama. Desse modo, foram coniventes com a prática da tortura para obter informações, como fizeram e reconheceram autoridades estadunidenses. Ignoraram a violação da soberania nacional do Paquistão, caso se confirme que a ação militar foi feita sem o conhecimento daquele país. Deram respaldo para que os EUA enviem uma tropa de elite para qualquer país para assassinar pessoas que julgam serem suas inimigas.

         Jogaram na lata do lixo o princípio de justiça que exige um processo legal, um tribunal, uma audiência, um defensor, um julgamento para condenar ou inocentar qualquer ser humano. É trágico como a maioria dos governos se comporta como vassalos frente aos interesses dos EUA.

            O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a afirmar que Bin Laden foi o iniciador de uma ideologia do ódio e causador de milhares de vítimas em todo o mundo, principalmente nos países islâmicos. Sarkozy é o mesmo presidente que lidera uma coalizão de países ocidentais que diariamente bombardeia o território líbio. Mesmo depois de Bin Laden ter sido sepultado no mar, centenas de civis continuam sendo mortos, não por serem islâmicos, e sim porque moram nos territórios ricos em reservas petrolíferas.

            A euforia do assassinato propagada pelo governo Obama e a conivência da mídia ocidental esconderam da opinião pública que Bin Laden foi um “inimigo”, no mínimo, conveniente para o imperialismo estadunidense. No Afeganistão, foi o principal aliado do EUA contra a ocupação da URSS àquele país. Após o fim da URSS e, consequentemente, o desaparecimento do medo do comunismo, o terrorismo de Bin Laden assumiu o papel de inimigo número 1 da pax americana. Os atentados de 11 de setembro de 2001 serviram para que o governo de George W. Bush instituísse a “guerra global contra o terror”, declarasse guerra e ocupasse o Iraque e o Afeganistão e, posteriormente, internalizasse esse conflito no território paquistanês. Uma estratégia que lhe assegurou o controle sobre as reservas de petróleo e dos oleodutos desses países e lhe permitiu instalar bases militares próximas a países como China, Irã e Rússia. Guerras que deram à indústria bélica dos EUA lucros fabulosos e que amenizaram os efeitos da crise econômica instalada naquele país.

            Um inimigo tão conveniente que a própria secretaria de Estado dos EUA, Hillary Clinton, reconheceu, em memorando, que a Arábia Saudita – um dos principais aliados do seu país no Oriente Médio – garantia o apoio financeiro essencial à Al Qaeda. Da mesma forma, não deixa de ser instigante que o Paquistão, aliado dos EUA na guerra contra o Afeganistão, abrigou Bin Laden por seis anos, sem que em nenhum momento fosse ameaçado pelo exército e pelo serviço secreto de inteligência da maior potência militar do planeta.

            Primeiro, não era conveniente prendê-lo porque servia aos interesses do império. Depois, esgotada sua serventia, tornou-se inconveniente sua prisão pelo que sabia e poderia revelar. Morto, ainda serviu para elevar os índices de aprovação do governo do Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama, visando a reeleição em 2012.

            Enquanto continuarem as políticas imperialistas das grandes potências capitalistas, de pouco adiantará ter jogado o cadáver de Bin Laden no fundo do mar. A principal causa das guerras e mortes de civis permanece:a insaciável ganância de acumular riqueza e poder.